Redes sociais na Espanha em 2011, que levou às ruas multidões dos chamados indignados, em sua maioria jovens, que reivindicavam uma mudança política no país, num momento em que o desemprego juvenil chegava alarmante cifra de 40%. Apesar de o partido de ultradireita gostar de aniversários (da batalha de Covadonga até a tomada de Granada), seu tributo ao movimento que ocupou a Puerta del Sol em 2011 e deu origem ao esquerdista Podemos desconcertou muita gente. Mas, embora possa parecer uma piada, a tentativa de se apresentar como herdeiro dos indignados de nove anos atrás era resultado de uma estratégia.
Cultural mais do que político. Não se tratava apenas de ocupar o poder, mas de combater o suposto pensamento hegemônico da esquerda em questões como a violência de gênero ou a imigração. Mas a entrada nas instituições nas últimas eleições gerais se tornou a terceira força política ― acabou domesticando-o e o próprio Santiago Abascal, presidente do Vox, foi visto na tribuna do Congresso defendendo o respeito à diversidade sexual.
Catalão e a guinada do PP para a direita, conduzida por Pablo Casado, atual presidente do partido, privaram-no de oxigênio político. Em comunidades autônomas como Madri, Andaluzia ou Múrcia, o Vox se tornou uma mera muleta do PP; e, diante das próximas eleições bascas e galegas, seu papel não é apenas marginal, mas irrelevante.
Pela gestão do socialista PSOE na crise do coronavírus e o longo e penoso confinamento deram-lhe a oportunidade de se reinventar. Não é mais necessário apelar a supostos veteranos do 15-M convertidos às ideias do Vox, o caldo de cultura está muito mais à mão: nos atuais indignados que todas as noites manifestam seu mal-estar em panelaços.
10 dias os moradores começaram a descer das varandas e terraços para protestar na rua, envoltos em bandeiras espanholas e sem respeitar a distância de segurança exigida pelas autoridades sanitárias. Logo a faísca saltou para outros bairros da capital e se espalhou para muitas cidades espanholas.
Iván Espinosa de los Monteros e Rocío Monasterio, participaram dos panelaços, mas de maneira discreta, juntando-se a concentrações “lideradas pelos próprios moradores”, nas palavras do porta-voz parlamentar.
Movimento transversal” de indignados, incentivado por sua televisão de sempre, El Toro (a antiga Intereconomía, que mudou de nome, mas não de estilo); e por outros veículos de comunicação de ar mais moderno, como o canal de YouTube Estado de Alarma, protagonizado por debatedores ativistas e políticos ativos ou aposentados como Rosa Díez e Esperanza Aguirre.
Recém-criadas, como a autodenominada Resistência Democrática, à qual se atribuem os panelaços do bairro de Salamanca, em Madri, aderiram grupos veteranos; entre outros a ultracatólica Hazte Oír e a Asociación de Militares Españoles (AME), promotora do manifesto de apologia a Franco assinado por centenas de militares aposentados.
Enquanto Santiago Abascal aplaude a “revolta das máscaras”, outros falam em “revolução das máscaras”, convertendo assim em revolucionário o movimento de protesto dos bairros mais ricos. E o Vox teve que se distanciar publicamente das manifestações de protesto protagonizadas por alguns de seus hooligans diante da casa do vice-presidente Pablo Iglesias ou do ministro José Luis Ábalos; uma prática copiada do Movimento 15-M, que a ultradireita agora quer emular.
FONTE: Brasil Elpais
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