Em plena Segunda Guerra Mundial, o slogan beauty is your duty logo se tornou um ato de compromisso patriótico inapelável, defendido e reforçado pelo próprio Winston Churchill. Por mais trivial que possa parecer, em tempos de crise o papel da indústria da beleza foi considerado essencial pelos Governos que souberam entender a ascendência psicológica e social de um simples batom. Apesar de a produção de cosméticos ter sido interrompida no Reino Unido por causa de tarefas mais urgentes, Churchill decidiu abrir uma exceção ao batom, afirmando que seu uso “elevava o moral da população”. Foi considerado produto de primeira necessidade, ao mesmo tempo em que as mulheres usavam almofadas de carimbo como ruge. Enquanto a gasolina, o açúcar e os ovos eram racionados, os batons eram distribuídos com a mesma assiduidade que a farinha. Assim um item básico de beleza foi transformado no símbolo por excelência do estilo de vida da sociedade moderna.
Sentirem fortes, seguras e atraentes, sentimentos especialmente valiosos em tempos de crise”, explica Rachel Felder, jornalista de revistas como The Cut e The New Yorker e autora do livro Red Lipstick: An Ode to a Beauty Icon. O Ministério do Abastecimento publicou um memorando que afirmava que a maquiagem delas era tão importante durante a guerra quanto o tabaco para os homens, evidenciando por outro lado o sexismo da época. “O ato de pintar os lábios emana uma mensagem de autoridade e convicção. Para as mulheres que o usam é tanto uma espada quanto um escudo, escondendo qualquer insegurança e demonstrando força assertiva”, acrescenta a escritora.
Usassem como ação de propaganda para elevar o ânimo dos soldados que lutavam para voltar para casa com aquelas esposas que não tinham perdido um pingo de beleza. O ódio público e notório de Adolf Hitler por qualquer tipo de cosmético era outro poderoso motivo para reivindicá-lo com mais convicção. “Eram vidas comuns impactadas por acontecimentos extraordinários. Se cada parte de sua existência sofria a intervenção do Governo, a aparência era a única coisa que podiam controlar”, afirma a historiadora Laura Clouting no The Telegraph.
Elizabeth Arden criou um kit de maquiagem destinado às mulheres da Marinha norte-americana que combinava com os uniformes, e Helena Rubinstein criou tons de batom e de sombra com nomes como “Vermelho de Regimento”, “Comando” ou “Vermelho Combatente”.Nenhum batom nem o da nossa empresa nem o de nenhuma outra vencerá a guerra. Mas simboliza uma das razões pelas quais estamos lutando... o precioso direito das mulheres de parecer femininas e bonitas, em qualquer circunstância”, dizia, novamente com um filtro sexista, a campanha publicitária “Guerra, Mulheres e Batom” da marca Tangee.
Tema frívolo e superficial, para além da colaboração fundamental da indústria na hora de transformar suas linhas de produção para fabricar máscaras ou gel desinfetante, Rachel Felder defende sua utilidade e relevância. “O batom eleva o moral, mas é muito mais do que isso: em tempos de crise, como aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, dá às mulheres uma sensação de normalidade. Nestes dias, quando as pessoas estão lidando com o estresse, o confinamento e a perda de entes queridos, é muito importante manter esses pequenos detalhes diários que fazem você se sentir normal. Pintar os lábios de vermelho todas as manhãs empodera. Uma vez vencida a disputa, até a própria rainha Elizabeth II que tem uma grande coleção de batons encomendou a fabricação de seu próprio tom de batom vermelho com matizes azulados que combinava com seu estilo, por ocasião de sua coroação em 1952.
FONTE: Brasil Elpais
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